As Festas como possibilitadoras de movimentos e encontros
Tatiana Fiori
Em fevereiro de 2012, houve duas festas no Lar São Francisco. A primeira dessas ocorreu no dia 09, momento no qual foi comemorado o aniversário de sete idosos (aniversariantes de janeiro e fevereiro). Juntamente a essa Festa de Aniversário, também houve a Festa de Despedida de um de nossos idosos, pois esse Sr. retornou ao convívio familiar após, aproximadamente, 30 anos de afastamento.
A outra comemoração aconteceu no dia 29: Festa de Carnaval dos Idosos do Lar. Na realização desse evento, além do trabalho da equipe do Lar, contou-se com o auxilio das integrantes da Associação de Voluntários do Lar (AVOLSFA) e com a participação do grupo musical Vovôs Alegres.
A Festa de Carnaval foi um sucesso, pois além da alegria presente naquele momento, um número expressivo de familiares dos idosos compareceu à confraternização. E mais importante ainda é que esses familiares mostraram-se muito felizes por estarem ali, curtindo a festa junto ao seu idoso, junto com nós todos, naquela tarde de temperaturas escaldantes, mas permeada de carinho, de cuidado, de amor, de realizações.
Realmente fevereiro foi um mês de acontecimentos: grandes, pequenos, mas todos relevantes. Tanto para a 1º Festa, quanto para a 2º, algumas idosas participaram da preparação dos “comes”.
Para a Festa de Aniversários, quatro idosas, juntamente com a psicóloga Tatiana Fiori e com a nutricionista Arlei Carravetta, prepararam o recheio para os minissanduíches que foram servidos aos idosos e trabalhadores do Lar durante a comemoração. E na Festa de Carnaval, também quatro idosas, juntamente com a psicóloga, prepararam uma Mousse de Abacaxi, a qual foi servida aos participantes da festa: idosos, convidados e trabalhadores do Lar.
Em nossa cultura, há um discurso que considera a velhice como uma etapa da vida improdutiva, assim se percebe o idoso como alguém destituído de capacidade de realizar inúmeras atividades. Sem dúvida, o envelhecimento acarreta modificações biopsicossociais e também limitações. Não é necessário negar as dificuldades presentes, todavia isso não pode nos cegar a ponto de não conseguirmos enxergar as capacidades e potencialidades presentes no idoso.
A inclusão dessas idosas na preparação de um dos “comes” a serem servidos nas duas festas ocorridas em fevereiro significa a abertura de um espaço no qual elas puderam se expressar como participantes da Instituição, e não apenas como recebedoras de cuidados diversos. Nesses dois momentos, as idosas foram incorporadas de outro modo à vida institucional. Elas não estavam ali – “cozinhando” – apenas para ocupar seu tempo, mas sim porque se entende que ali há sujeitos com algo a dizer e a fazer.
Neste “cozinhar”, as idosas puderam remeter-se ao passado – época onde cozinhar era algo corriqueiro – e compartilharam suas experiências umas com as outras. Além da rememoração dos tempos vividos, foram auxiliadas a perceberem que mesmo com dificuldades diversas – mãos trêmulas, movimentos mais lentos, diminuição da força, dificuldades visuais – elas ainda conseguem fazer atividades relacionadas ao “cozinhar”.
As idosas participantes desta experiência sentiram-se úteis, orgulhosas pelo seu fazer. A percepção de inutilidade, a qual muitas vezes está presente no discurso de nossos idosos, cedeu lugar ao sentir-se capaz, com utilidade, ou seja, perceber-se como um sujeito com valor, com importância.
É um desafio e uma meta fazermos que esses momentos se consolidem e se multipliquem.