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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Alguns apontamentos a partir do curso Políticas de Acessibilidade e Direitos Humanos


Alguns apontamentos a partir do curso Políticas de Acessibilidade e Direitos Humanos
Tatiana Fiori – psicóloga do Lar Municipal São Francisco de Assis

No período de 09 a 12 de julho de 2012, juntamente com mais três colegas de Secretaria, participei do primeiro módulo do curso Políticas de Acessibilidade e Direitos Humanos, o qual está sendo promovido pela Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e Pessoas com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul (Faders).
Na tarde de 12 de julho, o secretário da Justiça e dos Direitos Humanos, Fabiano Pereira, proferiu algumas palavras aos participantes desse curso. Durante sua explanação, contou uma breve “historinha”, mais ou menos assim: havia dois lenhadores que trabalhavam para uma terceira pessoa. Durante um dia de trabalho, um dos lenhadores trabalhou sem parar, enquanto que o outro fez diversas pausas durante o dia de trabalho. Ao final do dia, o patrão foi verificar a produção de cada um dos lenhadores. Para sua surpresa, o lenhador que realizou diversos intervalos havia cortado muito mais lenha do que aquele que havia trabalhado de forma contínua. O patrão questionou o lenhador acerca de como havia conseguido cortar mais lenha do que o colega. A resposta foi que as paradas eram necessárias, pois o serrote precisava ser afiado a fim de que cortasse a madeira.
Dar uma parada no trabalho cotidiano, nas atividades rotineiras, para participar de um curso, de uma palestra, de uma discussão, de uma reunião, de uma capacitação, de uma supervisão: são formas de afiarmos nosso serrote. O conhecimento, a reflexão, as mudanças e ampliação de entendimentos propiciam que nossas intervenções possam ser mais eficazes. Penso que além das possibilidades que esse curso abre no campo das práticas profissionais, também repercute na pessoa como cidadã.
Será que sempre respeitamos as vagas destinadas a pessoas com deficiência e idosos nos shoppings e ruas das cidades? Será que respeitamos os assentos destinados a idosos e pessoas com deficiência nos transportes públicos? Muitos respeitam. Mas outros, não. Alguns até respeitam, mas se sentem incomodados, quem sabe até injustiçados. Aceitar e entender a necessidade de preferência devido a especificidades de uma pessoa não é tarefa fácil, afinal é muito comum pensarmos no EU em primeiro lugar.
De acordo com o Censo de 2010 (IBGE), aproximadamente 24% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. Uma questão levantada durante o curso foi: “Onde estão essas pessoas? Estão nos parques, cinemas, shoppings, teatros?”. É muita gente, mas não as encontramos no dia-a-dia. Por quê? Diversas são as explicações para que isso ocorra, então escolho três situações para se pensar.
Há pouco menos de 1 ano, fui pela primeira vez ao Cinema juntamente com pessoas cadeirantes ou que necessitavam utilizar cadeiras de rodas devido à mobilidade reduzida. Não sei precisar se, antes desse dia, eu tinha conhecimento que naquela sala de cinema (a qual eu já havia estado inúmeras vezes) o lugar que eu considerava o pior (a primeira fileira) era o destinado a pessoas em cadeirantes de rodas. Qual lugar simbólico e concreto estão colocadas as pessoas com suas cadeiras de rodas?
Alguém já teve a experiência de visitar o Zoológico de Sapucaia do Sul com pessoas em cadeiras de rodas e idosos? Ao final do passeio, brincávamos que naquele dia não seria necessário irmos à Academia de Ginástica, pois já havíamos “malhado”, ou seja, passamos por um grande esforço físico empurrando as cadeiras de rodas. Os trabalhadores do Zoológico, assim como sua Direção, nos acolheu e nos auxiliou significativamente. Mas e quanto à acessibilidade? Quando essa inexiste, se impossibilita (ou pelo menos se obstaculiza) que algumas pessoas acessem aos bens que deveriam estar realmente disponíveis a todos. Como disse Marcos Rolim, na Conferência de abertura do curso, temos, então, um corpo com limitações e uma sociedade deficiente para inseri-lo. E muitas das pessoas que têm corpos com limitações com os quais trabalho no dia-a-dia querem estar incluídos nos espaços sociais, tanto que, nos dias seguintes a esse passeio, explicitaram o desejo de um novo passeio ao Zôo.
Há algum tempo atrás, questionei um funcionário do Lar São Francisco sobre o porquê determinado idoso era conduzido ao seu quarto logo após a janta (a qual é servida às 17h30). A resposta que me foi dada foi algo assim: mas o que ele vai ficar fazendo, sem enxergar (o senhor em questão é deficiente visual). Como assim? Não existem possibilidades de existência para os cegos? E se ele fosse cadeirante? E se fosse surdo? Também se entenderia como limitações impossibilitadoras de inclusão.
Nessas situações apresentadas, nota-se as dificuldades existentes para a real inclusão das pessoas com deficiências, e também os idosos, à vida social: barreiras físicas, arquitetônicas, barreiras de pensamento... Não se modificam modos de pensar e de agir culturalmente enraizados de forma rápida. Mas proponho que esse breve escrito propicie o início de uma reflexão acerca da Acessibilidade e Direitos Humanos e como nos relacionamos a essa temática.

Seminário Convivência Familiar e Comunitária de Crianças e Adolescentes Direitos Humanos e Justiça